quarta-feira, 14 de novembro de 2012

O Código dos Bola Roja

-- Primeiramente peço desculpas ao leitores, pois publiquei a postagem de teatro (que seria hoje) na segunda-feira, dia de postagens sobre palhaços/clowns. Por isso, hoje a postagem será sobre o trabalho com o clown. Mas na semana que vem as postagens voltarão a ser publicadas nos dias já definidos. Mais uma vez peço desculpas e agradeço a compreensão. 
A paz do Senhor! Pedro Rois --


Eaê galera! A paz do Senhor!

Hoje estou postando um
artigo do site Mundo Clown que fala sobre o trabalho de palhaços/clowns em hospitais. É muito importante lembrar que esse tipo de trabalho é algo muito sério e cuidadoso, e é preciso uma preparação especial para o fazê-lo. Por isso, se você tiver interesse de trabalhar em hospitais, busque saber se já existe um trabalho como esse na sua cidade - feito por profissionais - e faça parte de um deles pois, geralmente, há um período de preparação e capacitação para o mesmo. Fique por dentro dos trabalhos de palhaços em hospitais acessando o blog dos Hospitalhaços, e para conhecer mais sobre esse tipo de trabalho, assista o filme dos Doutores da Alegria, que está na nossa lista de "Filmes Recomendados" (na lateral esquerda do blog).

--

Código dos Bola Roja

Trabalhar como clown de hospital é um assunto muito sério. Não se trata somente de fazer rir, senão de tentar compreender o estado psicológico desses pacientes nesse momento e, então, intervir para desviar sua atenção para um lugar onde possam recuperar sua alma infantil.

Não é simplesmente fazer palhaçadas por fazê-las, é ser cúmplice da dor das crianças e de seus pais.

Devemos levar o trabalho muito a sério porque não é toda equipe médica que entende – ou aceita – o que se faz; para muitos, esse trabalho pode parecer uma bobeira e qualquer erro que cometamos poderá ser maximizado.

Este trabalho não substitui os remédios, é uma ferramenta com a qual o médico pode contar para fazer seu trabalho, que é restabelecer a saúde do paciente; por isso mesmo é importante conhecer os aspectos gerais das doenças que encontraremos ao longo do nosso trabalho.

Não se pode, por exemplo, falar que estamos mortos de sede e tomaríamos um balde de água tranqüilamente quando estivermos dentro da área de “nefrologia”, na qual as crianças têm restrições para beber água.

Temos que começar a aprender algo mais sobre esse assunto para que a sociedade nos aceite como profissionais necessários, úteis, e não como palhacinhos que visitam as crianças durante as festas de Natal.

Não se trata de caridade, senão de justiça, não é um ato caridoso, é uma atividade solidária.

* O trabalho deve ser feito sempre em duplas.
* Devemos evitar ser barulhentos, temos que ajudar os pacientes a relaxarem, pois já existe suficiente estresse no ambiente.
* Sempre devemos pedir permissão para entrar numa sala ou aproximar-se de uma cama, a permissão deve ser dada pela própria criança, pelos “donos da casa”. Devemos levar em consideração que quando uma criança entra num hospital perde o controle sobre si mesma; ela é deixada ali sem seus pais, é observada e tocada por estranhos, recebe injeções e medicamentos, tudo à revelia de sua vontade; deixemos que ela pelo menos decida se quer um palhaço perto dela ou não. Geralmente as que se negam a receber um palhaço, no início, logo irão, elas mesmas, convidá-lo. Quando receber uma resposta negativa o melhor a fazer é dizer: “tudo bem, quando você quiser que eu me aproxime você me avisa, tudo bem? Estou por aqui...” e tudo isso com um bom clima.
* É bom envolver os pais e enfermeiros no trabalho – quando estes estejam presentes, claro, porque isso suaviza a tensão e alegra às crianças, tornando íntimo o que parece distante.
* Fique atento a tudo para poder variar sua rotina quando for necessário.
* Não permita que pais ou equipe médica usem sua presença para chantagear as crianças (tipo: “se você não comer o palhacinho não vai brincar com você”).
* Uma criança que vai passar muito tempo hospitalizada necessita uma abordagem diferente daquela que está ali a pouco tempo. O trabalho com pacientes crônicos passa muito por saber seu nome, seus gostos, para poder conectar-se com ele de uma maneira mais íntima, mais próxima.
* Sempre saber o nome da criança e de seu diagnóstico (não se pode fazer rir a uma criança operada do estômago porque seus pontos se abrem!).
* Também é importante não envolver-se emocionalmente com a situação que estão vivendo, porque senão você “leva o paciente para casa” e sofre. Isso não quer dizer que não comparta a dor com eles mas, sim, que você isola cada caso de sua vida privada.
* As roupas do clown devem estar em bom estado, limpos e cuidados. Qualquer rasgo ou descosido é ampliado pela proximidade e faz com que o clown perca sua dignidade.
* É recomendável lavar as mãos após cada visita.
* Dar mais atenção às crianças mais retraídas, elas são as que mais sofrem e mais necessitam nossa ajuda.
* Desfaça qualquer tipo de “jogo” que suponha perigo para a criança, por menor que seja. Também não é bom aproximar-se muito dos que estão conectados ao soro (e aparelhos similares), isso os deixa mais tensos.
* Quando a criança não pode se mexer ou está conectado a algum aparelho, devemos fazer “jogos” realmente pequenos, como carrinhos sobre sua roupa, música suave, bonecos de dedo.
* Controle os “jogos” que fizer em cada sala, para não repeti-los com as mesmas crianças.
* Estes jogos podem ser recuperados de tempos em tempos, quando os pacientes sejam outros.
* É muito importante ter uma boa relação com a equipe médica de cada área. Saber se precisam que se dê alguma mensagem a alguma criança em especial (ao que não come, ao que recusa ou resiste ao tratamento...)
* Evite as brincadeiras pesadas mesmo nas áreas de transição entre uma ala e outra. Devemos lembrar que estamos num hospital e todos ali estão preocupados com algum familiar doente; devemos sempre nos aproximar com suavidade.
* No caso de atender a crianças com doenças terminais deve-se ter muito cuidado com o que se diz sobre o “futuro”. Evitem se desgastar dizendo coisas como “não se preocupe, logo você vai estar juntinho da sua família e de seus amigos, vai melhorar e ficar curado” e coisas do tipo. No geral, essas crianças e suas famílias são preparadas para enfrentar o que está por vir e dizer essas coisas é contra-producente para a aceitação da doença.
* Evite levar presentes para as crianças, devemos ter bem claro que vamos brincar com eles, e não levar presentinhos. No caso de perceber que alguma criança necessita um presente, o ideal é preparar um brinquedo com ele (boneco de meia, de papel, etc.).
* Se prometer levar alguma coisa a uma criança, cumpra. Ela estará esperando.

Doctores BolaRoja é uma associação de palhaços de hospital estabelecida em Lima, no Peru, e coordenada por Wendy Ramos, membro da equipe de Patch Adams em diversas ocasiões. Este texto tem seus direitos de uso e reprodução protegidos legalmente e foi-nos cedido por Wendy Ramos, sendo traduzido por Rodrigo Robleño. Para conhecer mais os “Doctores BolaRoja” visite a página www.bolaroja.net.

--

Grande abraço!

Pedro Rois

Nenhum comentário:

Postar um comentário