segunda-feira, 15 de agosto de 2011

A criação de um papel

Eaê galera! A paz do Senhor

Estou postando um texto sobre como criar um personagem.
Espero que gostem.

Pedro Rois

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A CRIAÇÃO DE UM PAPEL


A miúdo, nem mesmo o ator pode explicar como cria um papel. Por que o processo é demasiadamente complicado para que possa dar-se conta dele.
O talento não é suficiente para que o ator apareça em cena e faça um papel. Os atores novos pensam que basta ter talento e vocação para galgarem uma carreira teatral. Não bastam os impulsos, à vontade e a audácia de aparecer em público para que deles sejam transformados em atores.
Antes de tudo é necessário que o intérprete possa dominar-se, dominar os seus meios expressivos como se seu próprio corpo fosse um instrumento. Antes de um concerto um artista afina seu instrumento. Da mesma forma o corpo e a voz de um ator, necessitam desta afinação para que possam responder plenamente e prontamente aos impulsos de sua emoção.

TRANSFORMAÇÃO: ATOR – PERSONAGEM

O processo do ator de adquirir e dar forma ao seu personagem começa com o momento em que o script está na mão e continua até o desempenho final. Quais são os primeiros passos para um ator construir o seu personagem?


1)     CONSTRUÇÃO

O termo “construção” é usado especificamente. O personagem não é algo já existente que pode, em um senso elementar, ser visto e entendido. Seguramente, o personagem é criado pelo autor, mas o autor somente montou/construiu a moldura para o personagem – como também o andaime no qual os “trabalhadores” subirão para levantar as paredes, janelas e mobílias. Apesar de criado pelo autor, é o ator quem deve preencher todas aquelas paredes, janelas e mobílias. Usando uma analogia mais humana, o autor deve suprir o esqueleto, mas é o ator que coloca a carne.

A - CAIXA DE FERRAMENTAS

Cada pessoa tem um passado e um presente. Cada pessoa tem uma “caixa” cheia/abarrotada com experiências de vida, memórias, amores e ódios, pessoas, perspectivas. Cada ator tem pensamentos, opiniões, fantasias e sonhos. Cada pessoa no palco trás consigo uma vida cheia de matéria prima para transbordar.

Seguindo a analogia da construção, estes poderão ser vistos como os itens que encherão o depósito de onde o prédio será terminado (material para construir o personagem). Estas experiências de vida serão trazidas pelo ator para o seu personagem.
O ator e professor Uta Hagen refere-se a este processo como transferência – mas nós podemos desmistificar este conceito simplesmente pensando nele como o ator selecionando experiências da sua vida pessoal e dando-as ao seu personagem. É desta maneira que a carne é aplicada à moldura do esqueleto.
Este processo fornece algum “o quê” do personagem, mas mais importante, ele fornece a maioria do “como” (vai agir) e do “porquê” (vai agir assim).
Com este propósito, vamos usar o personagem bíblico de Rute como exemplo.


B - COMEÇANDO COM OS FATOS

A você foi dado o papel de Rute.  Qual é o primeiro passo? Você se assenta em uma cadeira confortável com o script e a Bíblia. Para descobrir como o autor interpretou o personagem, você lê o script várias vezes. Apesar do personagem ser familiar através da Bíblia, você se familiariza com o script primeiro – não porque o script seja mais importante do que as Escrituras, mas porque o seu primeiro trabalho é desempenhar o personagem de Rute como foi criado pelo autor, o seu trabalho não é desempenhar o personagem histórico como está descrito na Bíblia.

Uma vez que você tenha lido o script várias vezes, e acredita que você tenha no mínimo começado a entender o papel, você então se vira para o livro de Rute nas Escrituras. O seu propósito é essencialmente: descobrir ou relembrar o ambiente estabelecido para o personagem, e para verificar por si próprio de que o personagem como escrito não é igual ao relatado na Bíblia.

Das Escrituras você aprende que:

1) Rute é uma moabita;
2) Ela se casou em uma família judia, originariamente de Belém de Judá;
3) Ela foi casada não mais do que dez anos e após este tempo, seu marido, Malom morreu;
4) Rute decidiu deixar sua terra natal e ir para Judá com sua sogra, Noemi.

Apesar de certamente haver muito mais para se colher da história bíblica de Rute, para o propósito desta discussão vai parar por aqui, com somente estes quatro pontos, e considerar como você começará a construir este personagem e torná-lo seu próprio.

Você começa a fazer a si próprio a pergunta fundamental:
“Se eu fosse...”.

Fornece o nome do seu personagem:
“Se eu fosse Rute...”.

Desde o princípio, o seu propósito é personalizar o personagem. Você vê a si mesmo vivendo a vida de Rute. Agora, vamos reconsiderar os quatro fatos sobre a vida de Rute colhidos da Escritura – fatos reorganizados para refletir sua aquisição do personagem.

1)     Eu sou uma moabita;
2)     Eu me casei em uma família judia, originariamente de Belém em Judá;
3)     Eu fui casada por dez anos, e após este tempo meu marido, Malom, morreu;
4)     Eu tomei a decisão de deixar minha terra natal e ir para Judá com minha sogra, Noemi.


# Palavras do ator Uta Hagen:

“Se, como Laurence Taylor, você quer assegurar-se de que estará vestindo as ‘roupas de baixo’ do personagem, você terá que iniciar do começo com transferências de sua própria vida para as origens do seu personagem, para dar credibilidade à realidade da sua nova existência”.


C - APRENDENDO TUDO O QUE VOCÊ PODE

O próximo passo – que é, quando o seu personagem é uma figura histórica tal como Rute – é aprender tudo o que você pode sobre a pessoal real. Utilizando somente os quatro itens acima (para este exemplo), você começa o seu ensaio.

·        Vá até à biblioteca e aprenda tudo que puder sobre a Moabe antiga. Como era o lugar? O clima? Qual era o tipo de cultura? Como eram as pessoas? Eles eram bons vizinhos de Judá ou estavam em guerra a maior parte do tempo?  Qual era o status das mulheres na cultura moabita? Que tipo de restrições elas tinham? Como elas se vestiam? Elas se pintavam, enfeitavam o cabelo?
·        Baseado no que você aprendeu sobre a cultura moabita era comum uma mulher moabita casar na cultura judia? Este ato a teria condenado ao ostracismo pelo resto da comunidade? Teriam os judeus a desprezado – ou aceitado prontamente como todas as outras?
·        O que teria acontecido com uma viúva na cultura moabita? Ela teria se casado facilmente novamente - ou ela ficaria estigmatizada pelo resto de sua vida?
·        Que tipo de choque cultural teria uma moabita experimentada ao se mudar para Judá? Como ela teria sido recebida?


D - TRANSFERÊNCIA

Agora é hora de você começar o processo de injetar sua experiência de vida para dentro do personagem de Rute.

·        Você nasceu e viveu os primeiros anos de sua vida em Moabe – uma terra acidentada e desértica. Você tem familiaridade com o deserto? Você já experimentou quão quente e seco ele pode ser – tão quente que se torna difícil respirar? Pode ser que você não tenha passado muito tempo no deserto, mas você já dirigiu por ele durante as férias?  Se não, certamente você já experimentou o calor brutal de um dia ocasional. Talvez – se não foi no deserto – você passou algum tempo em uma praia seca, e com muita areia. Você se lembra como foi ter areia sobre todo o seu corpo e em todos os objetos? Como seria viver sob aquelas condições todo o tempo? Mas também podia chover em Moabe. Você já morou ou visitou uma área que fosse seca por um extenso período, e que depois recebesse uma chuva bem-vinda? Você se lembra como ela cheirava depois da chuva, como tudo parecia subitamente verde outra vez?
·        Você já se casou ou teve algum encontro com alguém de outra cultura? Como você se sentiu quando visitou a família daquela pessoa? Você se sentiu embaraçado – pelo menos a princípio? Fora do seu lugar? Alienado? Se não foi em uma situação romântica, você já teve algum amigo de outra cultura? Você convidou este amigo para visitá-lo e à sua família em sua cultura?
·        Muitas pessoas já perderam alguma pessoa amada ou amiga íntimo para a morte. Relembre aqueles sentimentos de perda, vazio, sentimento de ter deixado algo para trás.
Você sentiu raiva? Raiva de Deus? Esta perda fez você sentir como se tivesse um buraco no estômago?
·        Você já deixou a sua casa por um longo período de tempo? Você sentiu saudades? Após algum tempo você quis retornar para casa novamente? Ou talvez houvesse uma reação de oposição: talvez você estivesse satisfeito por ter saído, e feliz na sua nova casa.


E - OBSERVAÇÃO

O ator não pode sempre construir seu personagem através da sua experiência pessoal. Algumas vezes – na verdade, muitas vezes – precisamos acrescentar às nossas observações, as de outras pessoas. O ator deve ser um estudante das pessoas observando suas ações, comportamentos, peculiaridades e idiossincrasias.

Portanto, o ator deve se tornar um viajante – não se intrometendo na vida particular das pessoas, ou perscrutando através das sombras de suas janelas, mas sempre mantendo seus olhos abertos para o que está acontecendo ao redor deles. O ator observador coleciona personagens assim como outras pessoas colecionam conchas do mar, selos ou moedas, sempre mantendo um olho aberto por algo interessante que ele possa acrescentar à sua coleção. Deixe que um colecionador de conchas passeie por uma praia, e ele voltará para casa com o bolso cheio de novos tesouros. Da mesma maneira, deixe um ator parado em uma estação de metrô, por exemplo, e ele voltará para casa com o bolso cheio de novos personagens para acrescentar ao estoque de seu material.

Junto com as observações de pessoas reais, da vida real, pode-se também acrescentar ao catálogo de personagens as situações vistas na televisão, no cinema, e no palco. E torna-se raramente necessário compilar fisicamente estas observações, escrevendo-as; quando alguém dá atenção completa à observação ela se fixará na memória, somente esperando pelo momento certo de emergir, e contribuir para a construção de um novo personagem.


# Observações feitas por Laurence Olivier:

“Eu escuto comentários nas ruas ou nas lojas e os retenho na memória. Você deve constantemente observar um andar, um coxo andando, alguém correndo, como uma cabeça se inclina para um lado para escutar alguém falar, o piscar de um olho, a mão que coça o nariz quando pensa que ninguém está olhando, um bigode, os olhos que nunca o encaram durante uma conversa, o nariz que funga durante uma gripe. Ritmos. Observe o discurso das pessoas e conserve-os na mente, na sua caixa mágica. Estoque-os até que você precise deles, então os use. A maneira como as pessoas descem ou sobem de um ônibus, entram em um metrô, como mantém um braço atrás do corpo, ou ambas as mãos, um cotovelo, enfim todos os detalhes”.


2)     O TRABALHO DURO

Não é incomum que atores do teatro de igreja invertam a lógica da responsabilidade de um ator em relação ao seu papel.  Eles – como amadores no sentido tradicional da palavra – gastam pouco tempo trabalhando com o personagem, quando eles, com suas faltas de experiência e treinamento, são aqueles que deveriam estar trabalhando mais duro. Entretanto, o profissional – outra vez, no sentido tradicional da palavra – exibe seu profissionalismo trabalhando duro sobre coisas que o amador acredita serem desnecessárias!

Através do teatro, oferecemos nossas vidas a Deus, a fim da propagação do Evangelho de Cristo. Por isso, não vamos fazer de qualquer jeito só porque somos amadores.

“Maldito aquele que fizer a obra do Senhor relaxadamente.” Jr 48:10b

Faça o seu melhor, isso incluir o melhor do seu tempo, do seu empenho, da sua disciplina, da sua vontade, do seu estudo, da sua experiência espiritual, tudo isto não para mostrar aos homens e sim para oferecer a Deus.

Temos que lembrar que esse ministério teatral é:
Dele – A obra é de Deus, não se esqueça disso, principalmente quando pensar em fazer de qualquer jeito, seja porque está triste ou por achar que ninguém reconhece seu trabalho. Se você tiver algum problema ou dificuldade, ore e entregue nas mãos D’Ele, e continue o seu trabalho. Deus verá sua dedicação e te abençoará ricamente.
Por Ele – Não é para aparecer, para se divertir, ou para seus pais tirarem fotos sua, é por amor a Ele. “Por Ele” ainda nos lembra que sem Ele nada podemos fazer, ou seja, não é por mérito seu, ou meu, e sim por Ele.
Para Ele – O intuito principal não é agradar o líder, ou mesmo orgulhar sua mãe, e sim, oferecer um trabalho a Deus. Ofereça seu tempo, sua dedicação, sua vida a Deus, pedindo que Ele te use conforme lhe aprouver. E lembre-se que para Deus não é o que sobra ou o que não te faz falta e sim, o melhor.


BUSQUE SEMPRE A AJUDA DE DEUS!
“Tudo posso naquele que me fortalece.” Fp 4.13

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