Eaê galera! A paz do Senhor!
Hoje trago a vocês um artigo que achei no site
Recanto das Letras que fala sobre o filme
Monsieur Verdoux (1947), feito por um dos grandes palhaços do cinema,
Charles Chaplin. Esse filme pouco lembrado é uma das grandes obras de Chaplin e, ao contrário dos seus filmes anteriores, não traz o personagem The Tramp (o Vagabundo), mas o frio assassino Monsieur Verdoux. O filme conta, com muito humor negro, a história de um assassino em série que utiliza suas mortes para sustentar sua família. Um ótimo filme para se assistir e conhecer a história de Chaplin no cinema.
Logo abaixo está o artigo escrito por Paulo Luna, um dos cartazes do filme e, ao final do
post, o filme completo.
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Um dos melhores filmes de Charles Chaplin - Monsieur Verdoux
Charles Chaplin notabilizou-se como um dos
mais fabulosos artistas do século XX, atuando como ator, diretor, autor,
roteirista ou compositor de trilhas sonoras de seus filmes.
Imortalizou-se juntamente com seu notável personagem O Vagabundo, que no
Brasil ficou conhecido como Carlitos. Seus filmes foram apreciados e
aplaudidos por incontáveis gerações e ainda são até os dias de hoje.
Falar em um dos seus melhores filmes é quase uma redundância. Muitos
deles estão nas listas dos melhores de todos os tempos.
No entanto,
há um que normalmente não é citado, sendo até considerado como uma obra
menor dentro da filmografia desse gênio do cinema: Monsieur Verdoux.
Lançado
em 1947, dois anos depois do término da Segunda Guerra Mundial, quando
as feridas do grande conflito ainda não se encontravam devidamente
cicatrizados, esse filme é absolutamente destoante de tudo que Chaplin
fizera até então.
Ele que se consagrara como o doce vagabundo e que
fizera o mundo sorrir com suas comédias desde 1914, quando participou de
seus primeiros filmes mudos, nesse Monsieur Verdoux, o Vagabundo foi
substituído por um assassino em série, um homem frio e capaz de matar
sem qualquer tipo de culpa ou remorso, escolhendo suas vítimas entre
mulheres endinheiradas e solitárias. Depois de matá-las, ficava com o
dinheiro e dava sumiço no corpo. No lugar da comédia, a tragédia. No
lugar da ternura, a crueldade.
No entanto, um olhar mais apurado
sobre o filme pode perceber nele a genialidade do mesmo artista que foi
capaz de criar obras-primas como “Tempos modernos”, “Luzes da cidade”,
“O circo”, “O garoto” e “Em busca do ouro”. Em Monsieur Verdoux, Chaplin
por diversas vezes retoma o espírito do vagabundo e das suas melhores
comédias como é o caso da cena em que tenta matar uma de suas amantes
durante uma pescaria de barco e se mete nas mais hilariantes estripulias
sem que consiga perpetrar o seu intento. Essas, no entanto, são
pequenas e furtivas luzes de diversão que ele lança ao assistente, para
lembrá-lo do velho vagabundo, agora substituído pelo assassino frio.
O
filme na verdade é percorrido o tempo todo pela mais fina ironia. E a
todo tempo, Chaplin fica a fustigar a sociedade e toda a hipocrisia
vigente naqueles tempos e infelizmente para nós, ainda presente no
começo do século XXI. Monsieur Verdoux aparece sempre finamente vestido
como um autêntico cavalheiro e até mesmo se apresenta como se fora um
capitão de navio com sua roupa engalanada. E se nos filmes em que
aparecia o vagabundo, esse era barrado em todas as portas por sua
aparência rota e esfarrapada, Monsieur Verdoux ao contrário tem todas as
portas abertas para ele, pois possui toda a aparência requerida pela
sociedade, e no entanto ele é na verdade um frio e calculista assassino.
Em
todo o filme há um jogo constante das aparências sociais em permanente
questionamento. Quem é quem e quem é o quê. Quais são os sentimentos
verdadeiros e qual é na verdade o quinhão de cada qual na sociedade
capitalista? Chaplin segue zombando das normas capitalistas e ao final
do filme quando é preso e condenado à morte, Monsieur Verdoux faz a
constatação de que era condenado porque matara pouco, pois se matasse
milhões seria talvez condecorado como herói. Lançado dois anos depois de
terminada a grande carnificina da Segunda Guerra Mundial esse filme
mostra-se sombrio e mesmo pessimista e esse talvez tenha sido um dos
motivos de ter sido um tanto quanto ignorado pela crítica especializada,
que por sua vez esperava mais uma vez a presença do vagabundo que
encantara o mundo por mais de duas décadas. No entanto aquele personagem
já morrera, e ironicamente na Segunda Guerra Mundial mesmo, quando
Chaplin o colocou para falar pela primeira vez e última vez, no filme “O
grande Ditador”.
Ali, pela primeira vez o vagabundo falava e ao
mesmo tempo dava adeus às telas, pois aquele personagem não mais
voltaria à ação. E isso foi reforçado quando no primeiro filme que
Chaplin realizou depois de “O grande ditador”, passados sete anos, foi
exatamente aquele em que o velho personagem não mais aparecia.
No
final das contas, Monsieur Verdoux, é uma dura crítica a todo aquele
arcabouço político, econômico e cultural que levara a humanidade a seis
anos de cruel guerra na qual mais de vinte mil cidades foram destruídas e
cerca de 50 milhões de vidas foram perdidas em batalhas, bombardeios
sobre centros urbanos, navios afundados, campos de concentração e de
extermínio e outras maneiras de matar, até que chegou ao auge da matança
com as bombas atômicas lançadas pelos norte-americanos sobre as cidades
japonesas de Hiroshima e Nagasaki.
Assim, os questionamentos do
personagem quando de sua condenação à morte fazem todo o sentido, pois
guerras como aquela somente se tornaram possíveis a partir do momento
que todo e qualquer valor humano passou a ser colocado em segundo plano
em nome dos interesses econômicos e políticos, ou dos interesses de
Estado. E na verdade todos os horrores que ocorreram nos seis anos de
duração da guerra estavam colocados até como males menores diante das
novas perspectivas que a humanidade tinha de encarar com a bomba atômica
e a possibilidade de uma hecatombe nuclear final.
Dessa forma, o
filme Monsieur Verdoux não era mesmo para fazer rir, embora até o
fizesse em alguns momentos, mas sim, era para colocar os espectadores
diante de uma dura e brutal realidade, que cessada a guerra, iria
continuar em novos patamares, a bestial exploração do homem pelo homem
através do sistema capitalista de produção.
E hoje em dia, passados
61 anos do lançamento daquele filme, a atualidade de seu tema é ainda
maior num mundo envolto em diferentes guerras locais entre Estados,
guerras de facções, guerras civis urbanas, e com o retorno de um
fantasma que até se julgou estivesse mais para enterrado do que para
vivo, o fantasma da fome, que agora ronda o mundo com ares mais
sinistros ainda.
Por tudo isso, e ainda pela música, pela direção, e
pela soberba atuação de Chaplin é que ouso dizer que Monsieur Verdoux
está certamente entre os melhores filmes do cineasta e cidadão do mundo
Charles Spencer Chaplin.
Paulo Luna
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Monsieur Verdoux foi mal recebido e boicotado na época de sua estréia em 1947 em várias cidades dos EUA (por Chaplin ser acusado de comunista; o que ele não era) e foi censurado várias vezes antes do filme finalmente ser lançado; não apenas pelo filme em si que tem um humor negro, mas já pelo seu cartaz promocional com a foto de Chaplin como Verdoux e uma frase acima "Chaplin changes. Can you?", ou seja, "Chaplin mudou. E você?". Ninguém iria ver um filme, especialmente de Chaplin, em que ele mudaria totalmente de personagem. |
Filme Completo:
Grande abraço!
Pedro Rois